[Este relato foi extraído do livro "INCRÍVEL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO!", com edição do ano de 1951, o qual foi feito com base em
um programa da rádio com o mesmo nome e transmitido pela Tupi do Rio de Janeiro, entre os anos de 1947 e 1958, tendo sido criado por Henrique Foris Domingues, o "Almirante", que era o próprio locutor do programa de rádio, onde eram contadas histórias sobrenaturais enviadas pelo público, as quais eram analisadas quanto à sua veracidade, sendo somente aprovados após a análise realizada.
Este relato aqui publicado é uma homenagem à este ótimo programa radiofônico que fez muito sucesso em sua época, não deixando dessa forma que as lembranças de sua realização se apaguem com o tempo.]
Obs.: Algumas descrições de rotinas, dos costumes, da existência de comércios ou localidades estranhas aos dias atuais, e mesmo a maneira como os fatos foram descritos, são da época do ocorrido, o qual se passou entre as décadas de 1940 e 1950, quando existiam bares em estações, vias de terra e com matagais nas várias cidades do Brasil e outros costumes desconhecidos pelos mais jovens da atualidade
Naquela época já distante dos dias atuais a TV ainda estava no início, e o principal meio de distração das famílias era o rádio, onde geralmente todos se reuniam ao seu redor para ouvirem radionovelas, músicas e programas que atraiam os interesses de muitos ouvintes, como o "INCRÍVEL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO!".
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Todos os anos, no primeiro domingo de abril, realiza-se na cidade de Recife, capital do Estado de Pernambuco, a tradicional festa de Nossa Senhora dos Prazeres.
Lá pelo ano de 1929, resolvi comparecer à festa e companhia de alguns amigos, cujos nomes são os seguintes: Erancisco Costa (comerciante), José Boaventura (construtor), André Italiano (comerciário), Walfrido (chofer do carro que nos levou) e meu irmão, Flávio Aragão.
Ao lado da Igreja, existe um velho cemitério que é visitado por quase todos os que vão à festa.
Nós fomos, também, visitar o cemitério, mas para não destoar.
Percorríamos o campo santo, quando eu, ao passar por uma velha catacumba, descobri uma caveira que, por sinal, ostentava quase todos os dentes.
Sem mais pensar, retirei-a dali e apresentei-a aos companheiros, lembrando-lhes que todos nós, algum dia, seríamos justamente aquilo que eu tinha em mãos.
A seguir, coloquei-a novamente no lugar de onde eu havia tirado.
Saímos depois, indo beber num dos bares que ali se improvisam durante as festas.
Na hora de dividir as despesas, Francisco Costa propôs:
- Pagarei toda a despesa, se um de vocês fôr buscar aquela caveira; se ninguém tiver coragem, irei eu, mas, nesse caso, vocês é que pagarão tudo!
Não tive dúvidas. Levantei-me e fui marchando em direção à casa dos mortos, que distava do bar uns cem metros.
Minutos depois, estava de volta, no meio dos amigos, sendo recebido com grande entusiasmo e logo dispensado de entrar na "vaca" para o pagamento da despesa.
A cerveja voltou a encher os copos, que se ergueram num brinde à caveira.
E eu, que a conservava na mão esquerda, entornei várias vêzes meu copo na cavidade bucal daquele fúnebre achado, dizendo-lhe:
- Bebe à vontade, que aqui não pagas nada!
A essa altura, nossas mesas estavam cercadas de várias pessoas que conosco compartilhavam da brincadeira
Terminada a pagodeira, tomamos o automóvel de Walfrido e rumamos para a cidade, trazendo a caveira no meu colo até certa altura, quando a joguei fora, a pedido dos amigos.
Seria mais ou menos meia-noite quando chegamos à cidade, tendo cada qual tomado o rumo de casa para descansar.
Só eu fiquei, parado justamente à esquina da rua 1º de Março com a Avenida Martins de Barros, esperando um bonde que me levasse para minha casa.
Bem próximo, estava o "Bar Pereira Ferreira", ainda de portas abertas.
Daí a pouco, quase à minha frente, parou um automóvel, do qual desceu uma senhora aparentando 35 a 40 anos, bem conservada e simpática, trajando elegante vestido branco.
O carro partiu imediatamente e a dama dirigiu-se a mim:
- Gostei muito da festa. A farra da caveira, então, foi formidável.
Perguntei-lhe se tinha assistido a tudo, e ela:
- Ora. Como não, se até bebi com vocês!?
De minha parte, não estranhei essa declaração, pois, embora não me recordando da fisionomia de ninguém que se encontrava na festa, tudo atribuí ao estado em que me achava, de completa embriaguez.
A senhora, então, convidou-me:
- Quer tomar alguma coisa comigo, ali no bar? Aceitei, adiantando-lhe que as despesas seriam por minha conta.
- Será como deseja, respondeu.
Entramos e fomos para o reservado, onde ficamos inteiramente a sós.
Com amabilidade, disse-lhe eu, em dado momento:
- Sabe que estou simpatizando muito com a senhora?
- Pois fique sabendo que gostei tanto de você, que o acompanhei desde o cemitério. Foi a resposta.
A essa altura, o garçom havia colocado à mesa uma garrafa de quinado Constantino, e dois copos contendo gêlo.
A desconhecida apanhou a garrafa, enchendo seu copo e o meu, enquanto dizia:
- Como prova de amizade, vamos beber à nossa saúde.
Levantei-me e, quando tentei tocar seu copo, eis que vejo diante de mim um esqueleto, ostentando a mesma caveira que me servira de trofeu naquela noite!
Não dando tempo a que me refizesse do espanto, a fúnebre figura lançou-me ao rosto todo o conteúdo do seu copo e com tremenda gargalhada, desaparecia como uma fumaça de cigarro.
Meio sufocado com a bebida que me entrara pelas narinas, caí com todo o pêso do corpo no chão.
Recobrando os sentidos daí a instantes, encontrei o garçom a meu lado:
- Que tem o senhor? Por que está tão pálido e assombrado?
Eu que, ainda tinha nos ouvidos aquela estranha gargalhada, nada pude responder a princípio.
Quando me refiz, perguntei ao garçom quanto devia e, também, onde se encontrava a mulher que entrara comigo no bar.
- Que mulher? Pois se o senhor entrou aqui sozinho!
E arrematou: - Como me pediu um litro de quinado e dois copos, penssei que esperasse alguém.
De repente ouvi um baque e, correndo até aqui, encontrei-o sem sentidos.
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Augusto Aragão [Falecido]
Relato confirmado pela sua Viúva
[Dona Judite da Silva Aragão]
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